E
quem diria que, enquanto rabiscava a letra do Hino de Catolé do Rocha, ele
rabiscava sem saber, sua própria história de vida. Fazia rimas para uma cidade
onde um dia foi só mais um forasteiro, e no refrão, bradava com orgulho que
catolé é a terra onde nasceu. E no fim das contas, ele não estava mentindo. Pois
foi aqui, em Catolé do Rocha, onde nasceram a lenda e a história de um homem
conhecido como Frei Marcelino.
Ele
não era um homem comum. Não, nem de longe ele poderia ser descrito assim. Numa
época onde imperava o mais rústico e simplório estilo de vida, este homem
mostrou estar anos-luz a frente do seu tempo. Decidiu que aquela pequena
cidadezinha merecia mais que uma pracinha e algumas quermesses esporádicas
durante o ano. Aquela cidadezinha merecia cultura. E a cultura foi então apresentada
a Catolé.
Os verdes penachos do
corrente acenando à brisa fresca, testemunhavam agora meninos e meninas se
tornarem escoteiros e bandeirantes, absorvendo desde cedo os conceitos de
disciplina, respeito e altruísmo. Fundou, com a ajuda de amigos professores, o
Colégio técnico Dom Vital, instituição de ensino que até hoje segue sua
filosofia e orgulha-se de, acima de qualquer coisa, ensinar para a vida.
Um
homem do interior com um mundo inteiro de conhecimento dentro de si. Lecionava
português, inglês, latim, grego, Educação Artística, sociologia, psicologia,
entre outras tantas e tantas ramificações da arte de educar. Revolucionou o
esporte catoleense, trouxe a primeira televisão para a cidade e com apenas
quatro instrumentos, fundou o que hoje é considerada uma das melhores bandas da
Paraíba, a Banda Marcial do Colégio Técnico Dom Vital.
Enveredou-se
na política, fundou o Sindicato dos Trabalhadores da Paraíba, viajou o mundo no
intuído de aprimorar sua própria capacidade de fazer nossa pequena Catolé ficar
cada vez maior. Um espírito gigantesco no corpo de um humilde homem de Deus,
que de tão santo não perdeu a alcunha de Frei, mesmo depois de abandonar o
sacerdócio.
Mas
assim como o Rio Agon do nosso hino,
Frei Marcelino cansou de caminhar.
Depois de uma longa batalha com um antigo desafeto da medicina e da humanidade,
aquele grande homem se viu pequeno num leito de hospital. Após 13 anos, a
enfermidade retornava para uma revanche, encontrando agora um Frei Marcelino cansado,
vivido, um homem cuja missão na vida já fora cumprida. E ali, no silêncio do
Hospital Napoleão Laureano, rodeado de amigos agradecidos que entoavam baixinho
ao seu ouvido o tão amado Hino de Catolé, ele partiu. Foi-se ali um pedaço enorme
da história de nossa cidade.
Volto a ti, como um pródigo
sem teto, procurando teu afeto, Ai, meu Deus, como sofri. Sua profecia, em forma de
verso, entregava-nos no nosso próprio Hino o último capítulo de sua longa
história. Hoje, Frei Marcelino volta pra casa. Volta para a cidade onde
construiu sua história. Para um lugar em que seu nome será pra sempre
reverenciado, sua luta será sempre lembrada e sua marca tempo nenhum poderá
apagar.
Toda a cidade, sob a concha
azul do céu,
te recebe de braços abertos. E sob a
sombra abençoada do manto da mãe de Deus, nos despedimos do grande
responsável pelo enorme crescimento cultural e político de nossa cidade. Hoje,
Frei Marcelino, você pode dizer que está de volta à sua casa.
Que
você possa sentir toda nossa gratidão nesse seu tão merecido descanso. Que o Hino de Catolé do Rocha seja hoje suas mais perfeitas palavras de despedida. E que os últimos versos deste Hino concluam sua história terrena, completando com
a maior das verdades a última página do seu livro de vida.
“Quanta saudade senti, que recordação,
Catolé te amo tanto...
Não te deixarei mais não.”
...
Linda homenagem e bem merecida, nem preciso dizer, o quanto Frei Marcelino contribui para o desenvolvimento, a passos largos, da nossa pequena e mimosa Catolé. Parabéns kaquito!
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