Minha vida é um filme. Um filmaço daqueles. Sempre fui apaixonado por cinema. Sempre fui, digamos assim, viciado em filmes. E como qualquer cinéfilo que se preze, eu sempre tive verdadeiro fascínio por heróis.
E de heróis, o cinema entende. É nos filmes que conhecemos os mais variados tipos de guerreiros, vingadores, justiceiros e mártires. É no desenrolar dos mais variados enredos que aprendemos a amar e torcer pelo mocinho. A 7ª arte fascina. Ensina. Emociona. E seja qual for o tema, seja qual for o gênero, o herói está sempre lá.
Temos aquele carinha magricela e CDF, que após ser picado por uma aranha, ganha super-poderes e sai por aí, pendurado nas paredes, pegando os caras maus. Tem também aquele cara que fica verde se alguém o tira do sério. Tem o cara com roupa de morcego, outro com capa vermelha e cueca por cima da calça e outro que tem simplesmente uma fita vermelha amarrada na testa.
Temos também os justiceiros. Aqueles caras que não possuem super-poderes mas resolvem bater o pé e varrer a cidade de tudo quanto é bandido, só porque mataram seu gato ou tiraram sua carteira de motorista. Temos os honestos que dão no saco com a corrupção e saem mandando bala em quem estiver na frente. Tem até um chinezinho invocado que bate em todo mundo e faz tudo quanto é loucura sem truques ou dublês. E todos esse caras tem algo em comum. Lutam pelo bem. Pra fazer o bem.
E aqui fico eu, deitadinho, só me deliciando com o espetáculo que todos esses heróis dão ali na telinha. Mal percebo eu que, neste exato momento, um deles passa por trás de mim. Ela caminha rápido, um rebolado entoado que lembra um pato, os cabelos lisos balançando, os olhinhos cansados por trás das lentes de seu óculos novo da Ana Hickmann. Vai até a cozinha, bebe água e volta. Depois passa novamente, agora com uma vassoura. Agora vem levando livros e papéis. E lá vem ela de novo, agora com alguma outra coisa que eu nem consigo ver. Diabos, essa mulher não para?
É aí então que eu percebo: Essa mulher não para. O dia inteiro vai e vem, pra lá e pra cá, sempre com disposição e uma energia que nunca acaba. Seria a mulher-elétrica? A mulher-biônica? Vai saber. Só sei que ela é assim. E é assim desde sempre. Desde muito antes de eu vir ao mundo. Muito antes de meu filme começar. Desde muito jovem, a pequenina já lutava pelas Gothan Cities da vida, enfrentando os obstáculos do destino, vencendo qualquer barreira com muito suor. E acreditem, pode parecer estranho, mas talvez o primeiro grande vilão de sua história... tenha sido eu.
Eu nasci errado. Torto. Na linguagem do cinema, eu seria The Freak. A aberração. Eu era feio, cabeçudo e aleijado. Ela me chamava de meu fofo. Eu usava botas para consertar meu defeito. Parecia um cavalo. Ela me chamava de gatinho de botas. Eu era calado, sério, emburrado, quase um autista. Ela amava meu sorriso.
De acordo com os médicos, meu caso era um entre um milhão. Para ela, eu era um entre todos. Exclusivo. Especial. E como toda mente brilhante, ela percebeu que minha vida era um filme antes mesmo de mim. Pois quando eu não tinha mais que 5 meses de vida, e ainda morava em João Pessoa, com vovó, longe de seus braços, ela lá de Catolé me escreveu uma carta. E nessa carta, guardada até hoje, havia um trecho em que ela dizia assim:
“Sabe, meu filho, tem dias que não dá para aguentar, aí então eu choro, choro e através das lágrimas copiosas eu vejo as imagens se desenrolarem numa seqüência, desde seu nascimento até hoje. Mas o filme prossegue e eu vejo você mais além, feliz na pracinha, fazendo cooper com seu pai, comendo pipoca, jogando bola, teimando, fazendo xixi no calção, aprontando peripécias, e as lágrimas vão secando e eu me vejo serena na esperança de que brevemente a 2ª parte deste filme se torne realidade...”
Ela sabia o que falava. E não deixou eu me perder. Lutou, suou, chorou, fez esforços que nem Hércules fez em 12 vezes. E ela não desistiu de mim. Eu fui um problema, uma dificuldade, um fardo. E ela me pôs nos braços e seguiu. Hoje, aqui estou. Crescido, saudável, cheio de fé novamente. Já fiz cooper com painho na praça do colégio, comi pipoca, joguei bola até destruir meu joelho, teimei pra caramba e... bom, não lembro se fiz xixi no calção. Mas fiz peripécias sim. Sabias palavras, mainha. Hoje, aqui estou. Feliz. O vilão que havia em mim, se foi. Hoje, sou um aliado.
E lá vai ela de novo, nem sei mais se no filme dela ou no meu. Mais lenta, mais calma, mais cansada. E aqui fico eu, de olho nela, agradecendo em silêncio todos os dias. Quem seria eu sem ela? Onde eu estaria sem a força e a esperança que ela injetou em mim? Como faço para demonstrar o quanto sou grato por esta mulher ter salvo minha vida? Então eu rezo. E ponho todo o meu amor quando prometo a Deus que um dia ela ainda irá se orgulhar de mim.
E você aí, que assiste ao meu filme, será que já matou a charada? Será que você, que acompanha dia a dia a saga da minha vida, o enredo da minha história, já descobriu a mensagem que o diretor quer passar? É simples. Simples, porém genial: No filme da minha vida, as câmeras estão sempre em mim. Sou protagonista, personagem do título, centro da trama. Mas não sou o herói.
O verdadeiro herói do meu filme só aparece de vez em quando, como um personagem secundário, apenas para me dar um conselho, me ajudar nos momentos difíceis, me dar força quando eu preciso. O verdadeiro herói do meu filme não procura aparecer. Apenas me ajuda, por trás dos panos, chorando escondida quando eu perco e sorrindo satisfeita quando me vê vencendo e levando todos os créditos. O verdadeiro herói desta história fica mais feliz com a minha vitória do que com a dela própria. O que mostra exatamente qual é sua missão: Me fazer feliz.
E mais uma vez, ela se mostra mais poderosa do que possamos imaginar. Tudo que alcancei na vida, não foi por mérito meu. Foi por mérito dela. Hoje eu percebo que no filme da minha vida, eu sou o coadjuvante. Eu sou o personagem secundário. Ela é a personagem principal. E isso me enche de orgulho.
Pois de tudo que eu já vi nos mais de 13 mil filmes que assisti, não vi nenhum herói tão espetacular quanto mainha. De todas as horas que passei na frente da tela da tv, não lembro de uma história tão bonita e tão fantástica quanto a dela. E eu participei desta história. Como primeiro vilão. E como maior fã.
E hoje eu tenho marcado em mim o escudo da minha heroína. A partir de agora, levarei pra sempre, gravado em minha pele, todo o esforço e luta dessa mulher. Tudo que ela significa pra mim.
Uma Cruz numa espada. Uma espada numa cruz. Uma mulher que venceu batalhas, sempre com um sorriso de esperança. Alguém que lutou minhas batalhas quando eu não pude me levantar. A Espada que me defende. A cruz que me ilumina.
Mainha: A Guerreira de Fé.
Meu amigo Aurélio Buarque, nas suas 577 páginas de sabedoria, define “Heroína” como “mulher de valor extraordinário pelos feitos ou magnanimidade”.
Eu defino apenas como “Minha Mãe”.
Bjs FelizDiaDasMães...
Eu defino apenas como “Minha Mãe”.
Bjs FelizDiaDasMães...
lia e lembrava do vídeo que vc fez pra Lenilda no aniversário dela, #chorim
ResponderExcluirmuito massa Kakito, parabéns pelo texto e pela mãe maravilhosa :)
eu muito que quando olhei pra Paloma os olhos cheio d'agua, eu nem me admirei quando ela disse o que foi... ficou duas doidas chorando dentro desse apê... ficou muito lindo Kakito, parabéns por ter essa mulher guerreira na sua vida (L)
ResponderExcluirPaola e Bibika... Valeu por tudo que vocês fizeram e afzem por mim tb... Podem ter certeza de que mainha tem vcs como filhas, tanto quanto tem a mim...
ResponderExcluirRealista, profundo e com aquele toque de emoção, constante em suas crônicas.
ResponderExcluirVc transmite todo o sentimento nelas...
Parabéns por, entre outros, ter o dom de escrever :)
Homenagem foi super merecida! A Patinha deve tá muito orgulhosa ^^
Essa é a minha mãe...
ResponderExcluir'... E quando a dor
Me torna mais covarde
Eu sinto a coragem
Pra ser o que sou
Por que prá sempre
Um anjo vem me beijar...
Quando eu fico mal
E a dor parece
Não ter final
Olho pro céu
E eu sei
Que as estrelas
Sempre vão brilhar...
E quando a noite vem
Estou sozinho
Sem ninguém
O céu se apagou
Um anjo vem me beijar... '