Minha Família é Foda - E A Felicidade me deixa Triste





Sabe aquela história de que "o que passou não volta mais"?


Sabe aquela máxima usada nos momentos de nostalgia que que os bons tempos jamais voltarão, e que a única maneira de reviver esses momentos é agarrando-se nas lembranças?


Eu não sei bem se concordo com isso...


Mas sabe quando você tem a ligeira impressão de que os bons tempos voltaram? Sabe quando você finalmente sente a alegria que sentia quando tinha seus 6, 7, 8 anos de idade? Sabe o que é sentir aquele gostinho agradável de família que você pensava nunca mais provar?


Eu provei nesse feriadão...


A Casa Grande na Santana foi palco da minha infância. Lá, como eu já disse aqui mesmo nesse blog, eu aprendi a ser moleque, aprendí a gostar de histórias e aprendi a conviver com o sobrenatural.


E meus primos sabem bem do que eu estou falando... A casa grande foi a praia das nossas férias, o riacho foi nosso oceano, o pátio da frente nosso parque de diversões. Alí, rodeados pela natureza, os privilégios da cidade eram substituídos pelo prazer de um dia simples...


Na casa, chegavam a dormir quase 60 pessoas. E ninguém, em momento algum, sentia que aquele lugar era pequeno demais para nós todos...


Casa Grande da Santana... Mas isso vocês já sabem



Há muito tempo eu não tinha o prazer de passar vários dias na Casa Grande com minha família. No máximo dormia um sábado, passava o dia de um domingo... E geralmente dividia esses momentos com um décimo das pessoas que costumavam partilhar dias assim comigo em outros tempos.


Mas aí o inesperado aconteceu: Depois do Forró da Amizade, conversa vai, conversa vem, até que ficou combinado de todo mundo passar o feriadão de setembro na Santana. No começo eu achei que era conversa, que depois de uma ou duas semanas a empolgação passaria e quando o feriadão chegasse, todo mundo ia ter uma desculpa pra não poder vir.


Mas eles vieram. Na sexta-feira 3, já estavam todos lá. E eu não contei conversa: Saí do trabalho direto pra lá, de mala e cuia. E durante todo o caminho da minha casa até a Casa Grande, algo me dizia, no fundo do meu peito, que eu estava prestes a reviver momentos que só uma infância na Santana pode proporcionar. Algo me dizia que o feriado mais feliz do mundo me esperava alí, no meio do mato.


E assim foi. Família reunida. Não tão em peso como costumava ser, mas ainda era uma porrada de gente. Cerca de 30 pessoas povoando e fazendo aquela "zuada" tão agradável de se ouvir.




E fizemos um senhor forró. Um forró que foi tão desacreditado no começo que hoje serve como mais um exemplo do que a gente é capaz de fazer quando se tem vontade. Um forró bem íntimo, sem frescura, sem rodeios. Forró forró. Valeu a insistência, né, carla?





E dançamos, e brincamos e acima de tudo, sorrimos. E como sorrimos. Tudo virou piada, tudo virou bordão, tudo virou motivo de zuação. Motos foram sequestradas, casais bizarros foram formados e até Xico Xavier deu as caras no evento.


E dormimos tarde. Enchemos o alpendre de rede, tocamos violão aolhando o nascer da lua, jogamos conversa fora.


Contamos histórias assombradas, ah, isso nunca pode faltar. Contamos as histórias novas e relembramos as antigas, que até hoje me dão frios na espinha...


E assistimos filme. Filme de terror, claro, tem que ser.


E fizemos guerra de sabugo. Até que alguém se machucasse de verdade.


E jogamos perfil, imagem & ação e derivados. 10, 12 pessoas em volta da mesa, desenhando, gritando, morrendo de rir.


E jogamos Poker. Ah, o inesquecível torneio de Poker... A família inteira se entregou ao vício, mas nada se compara ao estrago que esse jogo fez em Lucas, Lara, Raquel e eu...


Mais de 5 horas seguidas de Poker: primeiros sinais de exaustão...


Trancados na cozinha, para não acordar o resto do povo, a gente tentava se concentrar nos milhões que estavam em jogo... Mas o tanto que a gente ria obviamente acordou todo mundo... Fazer o que? E a jogatina se estendia até o amanhecer... E haja coca-cola... E haja biz... E haja jujuba...


E dormimos pouco. Quase nada. 3, 4 horas por dia... E acordávamos atordoados, procurando uma trinca de Ases em algum lugar...






E almoçamos em família. Todo mundo de uma vez, enchendo a mesa da cozinha, a sagrada barulheira que me faz sentir pequeno, faminto, criança outra vez... E a saudade me batia nos momentos que antecediam as refeições... Porque das refeições na Santana, a cena que mais fica na minha memória é a de quando Tia Rosália chegava no alpendre e dizia:


"Pessoal... com calma... sem bagunça... sem zuada... O almoço está na mes..."


E o arrastão se formava rumo à cozinha, gritaria, zuada, minino caindo, escarcéu total. E Tia Rosália morria de rir disso...


E fizemos quebra-panela pra matheus.





E amarramos Carol. E não adiantou de nada. ¬¬





E Lara fraturou a costela.


E Carla, junto com Keke e Carol,viraram agentes do CSI MOTOCAS. Eu tava só olhando...


E Tio Heine dançou mambo.


E Raquel achou que elevador girava.


E Henrique aprendeu a dizer Mothafucker... (Meu Deus, quem ensinou isso, hein?)


E hoje, a vida volta ao normal. A rotina está de volta, e não há mais surpresas. Não há mais almoço barulhento, não há mais histórias de fantasma, não há mais mesa de Poker até de manhã...


E isso dói. Não sei se dói em vocês, mas em mim dói tanto... Não sei se é pra ser assim, mas geralmente a saudade deveria ser mais agradável de sentir.


Sinto uma saudade absurda de vocês nesse exato momento. Absurda mesmo. Dói fisicamente. Sinto falta de cada um, do som de cada voz, do barulho de cada risada.


Sinto falta do som de Larinha tocando os MP3 internacionais de Jaime.


Sinto falta da operação militar que era pra eu e Lucas levar a mesa do alpendre pra cozinha...


Sinto falta de Bebela falando sozinha enquanto arrumava as "cortinas" dos "quartos"...


Sinto falta de Carla gritando "Olhe o respeito com quem tá dormiiiindo!!!" lá do outro lado do alpendre...


Não sei se o que eu sinto agora faz sentido. Eu devia estar feliz. E estou. Mas estou triste ao mesmo tempo. Porque não sei quando um dia como esses irá se repetir.


Talvez essa tristeza seja um bom sinal. Talvez essa tristeza seja um sinal de que eu sou realmente feliz quando estou junto a vocês... E talvez essa tristeza seja justamente o motivo que me obrigre a procurar reunir todo mundo na Casa Grande outra vez.


A família voltou ao lar. O alpendere da Casa Grande novamente acolheu o sono dos seus filhos... E Tia Rosália com certeza lá de cima sorriu diante do fuzuê da hora do almoço.


Pois no Grande Torneio de Poker desse feriadão, o grande vencedor não fui eu, não foi Larinha, nem Lucas, nem raquel...


O grande vencedor foi a Casa Grande. Que ganhou, em uma jogada que não sei se foi obra da sorte ou do destino, o maior prêmio de todos. Ganhou 5 dias no passado. 5 dias daqueles que ela mesmo não acreditava presenciar novamente. 5 dias de família Targino reunida.


A Casa Grande virou a mesa. E comemorou sua vitória, justamente com a mão que ela mais precisava:






Full House, Casa Grande...





Full House.


Comentários

  1. Silvana pediu pra postar o comentário dela:


    "Suas palavras foram tocantes e apropriadas...

    Foi tudo muito bom e verdadeiro. Essa mistura de sentimentos de felicidade do que vivemos e saudade do que passou realmente dói.

    Dói tanto que nos faz, a cada despedida, sentir aquela imensa vontade de chorar (e até mesmo chorar) quando acenamos para aqueles que sempre ficam na casa, não menos chorosos do que nós, olhando para a cancela até a poeira dos carros se dissipar... É uma dor estranha que rende...rende muitos dias ainda...

    Os sentimentos que brotam nos corações de cada um que passa pela "casa grande" são inexplicáveis, mas são intensos.

    E é isso primo: ali nós vivemos intensamente nossa família, nossas raízes...nós mesmos...simplesmente, vivemos!

    Amo todos vocês!"


    Vlw, Sil...

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  2. Comentário de carla, por e-mail:

    Eita que o danado do Banzo agora aumentou.

    A Saudade é tanta que fico imaginando quando vai passar...só que eu sei a resposta: Ela não passa. No meu caso, nunca passou. (pausa...sniff..sniff).

    As lembranças juntamente com o seu artigo Kakito, me levam a comparar a Santana de antes e a Santana de agora. Lembro que foi na Casa Grande que minha avó me ensinou a fazer pavio de lamparina (pense em um trabalho difícil).

    E foi com orgulho que recebi de meu avô uma lamparina todinha pra mim...tão pequenina e brilhosa que parecia uma lâmpada mágica !!! Porém eu nunca esfreguei para ver se saía de dentro um gênio lindo e disposto a me conceder 3 desejos...pra quê?? Tudo o que eu desejava estava exatamente ali na Santana.

    Sabe Kakito, me recordo até do cheiro do querosene que quando queimava, saía uma fumaça preta do tal pavio que eu havia aprendido a fazer...escutar as histórias de minha avó e imaginar figuras sombrias que tomavam formas na fumacinha da lamparina, fez parte de minha infância.

    Fiz parte de uma Santana sem luz, sem televisão, sem telefones, sem modernidades...jantávamos de cinco da tarde com meu avô na cabeceira da mesa para aproveitar o sol que ia se pondo (pausa....) .

    Adorava andar na velha camioneta cheia de lenha que vovô trazia da Santana para a cidade, com Tivan dirigindo ou Tio Hamlet...entre aqueles grandes homens sentados na boléia, podia-se ver um tiquinho do meu pé de milho (não sei porque vovó insistia em fazer o tal pé de milho no meu cabelo) toda orgulhosa no meio dos verdadeiros heróis de minha infância.


    Achava o meu avô um homem que entendia de tudo. Tivan? Como uma pessoa podia lutar tanto com onças e sair sem nenhum aranhão? Ticaco? Parecia ter saído dos filmes de faroeste de tão lindo montado em seu cavalo branco (TINHA ATÉ UM CAVALO BRANCO) de nome CARTUCHO (era ou não era um verdadeiro cawboy no meio do sertão paraibano?)


    Quando as férias acabavam o peito apertava tanto que parecia que ia explodir. Como eu chorava!!! Como voltar para a realidade depois de ter vivido um sonho?? Sempre me diziam: “ Nas próximas férias você volta..” Vixe...só nas próximas férias? E vamos contar os dias...

    passado tantos anos, eu continuo contando os dias. Continuo chorando pela metade do caminho com a mesma saudade que me apertava o peito de tantos anos atrás. A Santana mudou.

    Chegaram novos netos de D, Avany e seu Chiquinho...chegaram até bisnetos !!! O tempo não parou. A Santana não mudou e tão pouco a alegria que reinava naquela época passou.

    (continua)

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  3. (continuando)

    Os costumes permaneceram. Expressões foram perpetuadas pelas gerações : “ alambazado, zuè, marmota, bilôra, mangar, alpercata e tantas outras. Os meus heróis envelheceram, mas ainda continuam heróis!!!

    Sim, heróis...a onça se foi, o lindo cavalo branco foi substituído por outros, mas as lutas heroínas continuam...continuam no combate a seca, a luta com o gado magro, o sol escaldante, a poeira, o cansaço.

    Alguns personagens que eu considerava eternos, se foram...e quando paramos para pensar nos que partiram, a dor só faz aumentar. Como esquecer os passinhos curtinhos de meu avô com sua trunfinha de cabelo branquinho que ele tanto gostava que alisassem?

    Como esquecer de vovó Avany com sua maneira imperiosa de ser, mas que comigo sempre foi tão amorosa?

    Como encarar a casa de Aquinha nos dias de hoje sem lamentar a brutalidade que o progresso causou em sua fachada? Cadê a figura de Aquinha na varanda sempre sorrindo até para quem não conhecia?

    Cadê tia Rosália (pausaaaaaa...) com todo o seu cuidado com Zezinho e a sua gula por arroz de graxa? Se foram...foram embora tão de repente que ainda não deu tempo de acostumar com tanta ausência.


    Suas importâncias em minha vida, mede-se pela saudade que sinto nesse momento. Recebi um e-mail de Luciano onde me trazia a perfeita definição de saudade... “Saudade é o amor que fica “

    Portanto, esse é o sentimento que trago agora.
    Porém, nem tudo são lágrimas nesse instante...o fim de semana do feriadão reuniu (quase) todo mundo. Zoadas, risos, mangação, forró depois do muído, família, família e família...

    nunca essa palavra fez tanto sentido. Ver Henrique sentindo a mesma alegria de uma infância mágica que todos nós tivemos não tem preço!!!


    Lá falamos besteira sem a preocupação do que o outro acha...e nos mijamos de tanto rir com as lezeiras ditas sem hora marcada. Rimos de tudo...tudo é perfeito...as noites mal dormidas, o calor de dia e o frio de noite, a mesa farta com algumas mosquinhas voando em volta, a fila para o banheiro, Jumbreau passando por baixo das redes, o sol na cara de manhã (ainda bem que Isabella mesmo falando sozinha, arrumou umas cortinas para o quarto).

    Esse ano o tema deveria ter sido: “ Eu SOU O REI DO BARALHO”...Nunca vi tanta animação em frente a um jogo de cartas.

    Bem, é certo que animação nunca faltou. Até um doido andarilho apareceu esses dias para desespero de Tia Haydee.

    E mesmo com toda essa zoada, nunca dormi tão bem!!! E como dormi!!!! Parecia o sono dos justos (nunca entendi essa frase)...mas prefiro a explicação de Tivan...a tal da mosca Tsé-tsé que soltaram por lá...me picou umas 15 vezes.


    Estou agora mesmo contando os dias....outubro? Dezembro? Não sei...só sei que PRECISO ir. É necessidade mesmo! Necessidade de família e da minha família! Necessidade de estar perto simplesmente por estar.


    Nesse momento, sinto que volto aos velhos sentimentos tão conhecidos... saudade da Casa Grande, saudade do meu pé de chão, saudade do meu povo. Ainda volto morrendo de chorar...ainda volto com a sensação de que o peito vai explodir...ainda tenho inveja (uma inveja sadia) de quem mora por lá e que pode desfrutar de tudo aquilo na hora que quiser.

    Ainda sinto saudades de minha família....ainda fico sorrindo de vez em quando lembrando de um momento vivido nesse feriadão. Ainda ando contando os dias....

    Como não jogo Pôquer Kakito, não posso dizer full house....mas digo...


    Bati!!! Rsssssssssssssssssssss


    Um beijo bem grande em seu coração

    Carla targino

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  4. Depois de tudo que li só choro choro e choro, não tenho condições de comentar agora. Foi lindo kakito, foi lindo Carla e Silvana. Beijos

    Bella

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