O Sufocante Dia em Que fui Fechado em Um Caixão





Essa semana eu conversava com Larinha sobre sabe-Deus-o-que-tanto no MSN quando surgiu o assunto claustrofobia.


Papo vai, papo vem, me veio à memória momentos em que eu já testei os limites do sufoco humano, como quando Beto me trancou na mala do carro ou quando eu entrei idiotamente na conserva do bloco.


Mas nenhum momento foi tão esquisito quanto o sufocante dia em que fui fechado em um caixão.


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É, eu já tenho essas tosquices de experimentar coisas bizarras. E naquele dia, a gente ensaiava uma peça teatral, que a gente acabou apresentando no Salão Pax e obtivemos ótimas críticas.

Acontece que na peça, uma das personagens morria de um puta ataque de asma, e o ato seguinte se passava em seu velório.

Em determinado momento da peça, a gente tinha que esconder o cadáver, para evitar que o mesmo perdesse o benefício de um prêmio em dinheiro. E a saída era esconder o corpo e jogar A MIM, dentro do caixão.


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Naquela noite o ensaio corria num ritmo tranquilo, leve, todo mundo já dominava o texto e a gente já começava a se sentir bem à vontade pra tirar onda.


Foi então que no intervalo entre o ensaio de um ato e outro, quando alguns bebiam água e outros passavm o texto, eu tive a brilhante idéia de pedir pra me fecharem no caixão.


Me deitei na parada, que por falta de acolchoamento, não é lá muito confortável. Tudo bem, faz sentido, o cara que vai deitar alí não ta pensando em acordar com dor nas costas.


O forro da madeira, aquele tecido branco que eu não sei o nome, coça. Cara, coça pra se lascar. Mas acredito que isso também não seja um problema, já que depois de morto, suas unhas continuam crescendo.




Já "acomodado" na minha urna, Beto veio e colocou a tampa, lenta e funebremente., fazendo uns sons de "uuuóóóóóOOOooOOooOoo", que deveria ser algo como um cântico funesto ou coisa do gênero (Já perceberam que Beto sempre tá no meio disso?)


Assim que a tampa se encaixou em seu lugar, a escuridão tomou conta do mundo. Não dá pra ver carambolas. Um silêncio abafado se instaura e seus ouvidos começar a brigar pra comprender os burburinhos que vêm lá de fora.


O espaço é absurdamente pequeno. Como fazem isso com os pobres mortos? Eu já vi relato de pessoas que foram enterradas e tornaram à vida, sendo encontradas emborcadas no caixão dias depois. Mas, francamente, as vezes eu penso que ainda é mais fácil a parte de ressucitar do que a de girar o corpo e se emborcar naquele imprensado.


O forro que coça


Quando penso que não, uma coisa arranha meu braço. Os parafusos. Os malditos parafusos! O fresco de Beto tava lacrando o caixão literalmente.


Imaginei acordar alí, naquela situação, um dia qualquer. Sinceramente, não há muito o que se fazer. Porque eu falava e o pessoal de fora não me ouvia. É incrível como um caixão é à prova de som.


Arrebentar a tampa com socos e pontapés, nem pensar. Não há espaço suficiente pra você armar um golpe, um chute ou sequer para empurrar a tampa pra cima.


Aos poucos, o oxigênio vai acabando. os burburinhos que vêm lá de fora vão ficando cada vez mais incompreensíveis e tudo que você consegue escutar é sua própria respiração.


Como se não faltasse mais nada, eu sinto a tampa ficar ainda mais perto de meu rosto. Beto se sentou nela. Eu já esperava por esse tipode sacanagem, sempre tem.


Fiquei com medo, não de morrer, mas de cair e quebrar o caixão alheio, já que o mesmo estava disposto em cima de dois pequenos cavaletes funerários, que na minha sincera opinião, não oferecem segurança para um eventual defunto inquieto.


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Passado um tempo, eu já considerava uma visita ao balão de oxigênio do hospital, quando um raio de luz iluminou minha "cova".


De súbito tudo se iluminou, e eu percebi que a janelinha de vidro havia sido aberta. E lá, do mundo dos vivos, Beto ria com a cara mais de rapariga de todos os tempos.


Abriram então a tampa, e eu saí, empapado de suor e um sorriso de alívio no rosto.


Bom...


Alívio esse que se desfez quando fiquei sabendo que o caixão usado na minha experiênica pertencia à igreja, e era usado para fazer velórios de pessoas que não tinham condições de pagar um caixão.


Caixão esse que recebia o cadáver, o levava até o cemitério, despejava o morto lá e era trazido de volta para ser usufruído por outro desafortunado.


Como eu.



Bjs, fuuuuuuuuuuuuuuu



Ps: Eu até tinha umas fotos dessa experiência, mas não as encontrei no Pc... :/

Comentários

  1. Kakito, estou literalmente com falta de ar!!! Nunca pensei que alguém fosse LOUCO o bastante para entrar dentro de um caixão estando VIVO e narrasse tão bem a sensação.Portanto, vc recebeu o prêmio maravilhoso de cuidar de mim, após a minha saída desse mundo.
    1) NÃO QUERO FICAR EM UM CAIXÃO!!!
    De repente no dia da minha morte tem um forró de noite e vcs se apressem para me enterrar. Nãnãnão. E se eu tiver viva? Vai demorar muito minhas unhas pequenas crescerem para que eu pelo menos, arranhe a madeira e pergunte inocentemente: TEM ALGUÉM AÍ??? ALOWWW...BRINCADEIRA CHATA GENTE!!! socoroooo!! Me virar?? Nem pensar!! Com o tamanhinho do meu corpo, vou ficar é entalada de lado amassando meus peitos...eternidade tem silicone não meu filho!!! Sou alérgica a picada de inseto, môfo e pano que COÇA!! Já pensou no meio do velório eu ficar me coçando?? Que mico!! Vão pensar que eu morri de chanha. Não vai ficar ninguém.
    Portanto caro primo, em meu velório, me sente em uma cadeira muito confortável (fique de braços dados comigo, para que eu não caia. Não posso chegar do outro lado com hematomas)coloque um copinho de cerveja do meu lado (brinda-se a vida, brinda-se à morte)e não deixe Raquel nem Keké tomarem a minha cerveja!!! Depois de 3 dias, se eu não abrir um olhinho sequer, coloquem um espelho em meu nariz...se ainda assim tiverem dúvidas, puxem um cabelinho do meu nariz (doi pra caramba!!!). Se DEPOIS DISSO eu não apresentar sinal de vida, me queimem!!! Joguem minhas cinzas no terreiro da Santana (mas levem a urna lacrada...sei muito bem a esculhambação que vão fazer e é capaz de me jogarem alí na Cajazeirinha. Obs. Não deixe Raquel levar a urna..ela cai). Bem, é isso. Sabe, estou mais tranquila agora...mas para não ter erro, é melhor esperar 5 dias para começar a operação, ok?? Se vc não se comprometer comigo nesse PACTO, vou balançar sua rede toda noite cantando : eu perdi o dóóó da minha violaaaa...
    Cheiro

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  2. Carlota... sua proposta seria tentadora, se não fosse tão trabalhosa.


    Pensei numa solução mais simples. Ao surgir o primeiro sinal de que você morreu, usaremos aquela Winchester 1892 que fica no sotão e garantiremos sua passagem direta pro beleléu.

    Aí só gastaríamos o dinheiro de uma bala, economizando o dinheiro da cadeira confortável, da cerveja, do espelho, do alcool e do fósforo. Sem falar que não sujaremos o terreiro da Casa Grande.

    Pense um pouco e analise minha proposta.


    Bjs

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