Aos Meus Amigos do Canibal...

Sim. Este é um post gigantesco. Ele é direcionado a pessoas que certamente lerão, pois conhecema importância que o Carnaval tem pra mim. Todo esse texto não diz nem metade do que eu sinto nesse momento. Por isso, se achou grande, foda-se. De coração. Se você não tem interesse em ler, é porque certamente eu não escreví pra você. 

Algumas decisões na nossa vida definitivamente não são fáceis. Desde que time torcer quando você é apenas um pirralho, passando por que curso escolher para o vestibular na adolescência até chegar em como distribuir seus bens no testamento lá no fim de sua vida. A nossa vida, portanto, se resume a isso. Escolhas. Malditas escolhas. Escolhas e mais escolhas.

Eu fiz parte do bloco Canibal por tanto tempo que, francamente, eu não consegui calcular com precisão pra lhes dizer aqui aqui. 10 anos eu acho que seria uma média. Baixa. Realmente faz muito tempo.

Foram anos inesquecíveis, de carnavais inesquecíveis, com amigos inesquecíveis.

Lá eu testei os limites da minha tolerância ao álcool, os limites da minha resistência física diante da maratona carnavalesca, foi lá que eu testei os limites do quanto se pode rir numa carroceria de caminhão.

No Canibal eu fiz a minha parte, fiz a minha história. Tenho momentos marcantes, momentos tristes, alguns completamente embaçados na minha memória devido a cachaça, mas acima de tudo, tive momentos felizes. Histórias engraçadas pra contar dos meus carnavais no Canibal certamente dariam um enorme livro. Fácil, fácil... Nesse bloco eu fui feliz de verdade, não porque bebi demais. Mas porque fiz amigos que respeito e admiro demais. 

Mas pouca gente sabe que, antes de entrar no Canibal, eu tive uma passagem de 3 ou 4 anos num bloco chamado Kaindo no H. Foi meu primeiro bloco, digamos assim, independente.Pois antes eu brincava no Bloco do Boi, junto com meus pais, os amigos dos meus pais, e os filhos deles. Outra família que jamais esquecerei. Entrei no Kaindo bem novinho, nem barba tinha. Mas lá conheci a liberdade e o carrego de um bloco jovem de carnaval.

Então, depois desses 3 ou 4 anos, notei que cerca de 90% dos meus amigos que quando crianças brincavam comigo no Bloco do Boi, se encontravam agora no Bloco Canibal. Não que eu não tivesse amigos no Kaindo. Tinha sim, e muitos. Mas aquela turminha do Boi era meu verdadeiro grupo de amigos, desde moleque. E foi por esses amigos, por ser fiel a essa amizade, que decidi deixar o Kaindo no H e entrar no Canibal.

O mundo girou, os anos passaram... E este ano, tomei conhecimento que o Kaindo no H estará completando 20 anos de existência no carnaval 2011. Isso mesmo, 20 anos já. É uma marca histórica, que poucos blocos conseguem alcançar, e merece ser comemorada com mais festa, com mais cerveja, com mais entusiasmo que nunca. E pelo que eu ouvi, é isso que eles pretendem fazer.

Diante desta situação, sabendo que este ano cada vaga no Bloco Kaindo no H é disputada com unhas e dentes dezenas de pretendentes, o que exige um enorme e cuidadoso processo de seleção dos candidatos, fiquei surpreso quando o presidente do Kaindo no H em pessoa, veio até minha casa e, num gesto de extrema consideração, me afirmou que, independente das minhas escolhas, a minha vaga já estava garantida no bloco, há muito tempo. Bastava eu dizer um “sim”.

Obviamente que isso me deixou extremamente honrado. É motivo de muito orgulho pra mim perceber como a minha amizade é forte com os manolos de outros blocos. Mas isso também me deixou totalmente apavorado. Confuso. Como assim, “sair do Canibal”? Isso era algo que eu nunca havia pensando antes...

Mas aí eu decidi pensar, era o mínimo que eu poderia fazer diante do convite tão honroso que eu recebi. E foi só analisar um pouquinho, que eu percebi algo que eu não sei porque, estava ignorando até esse momento:

Eu tenho um grupo forte, um grupo ligado, um grupo inseparável de amigos que freqüentam a Kasa da Eskina todo fim de semana. São manolos que eu encontro diariamente, converso diariamente, convivo diariamente. 

Manolos que dividem comigo seus segredos, suas preocupações, suas alegrias. Manolos que me ligam toda hora por qualquer motivo, que são fiéis aos eventos da Eskina, que topam qualquer parada louca que surgir no meu jardim.

Manolos que compartilham o mesmo gosto musical que eu, o mesmo senso de humor, a mesma falta de vergonha na cara. Enfim, são simplesmente os Eskineiros. Amigos que fazem meus fins de semana funcionarem, e cuja companhia me faz sentir feliz ao botar as mesas lá fora. A molecada que meu próprio pai faz questão de dizer que admira e tem orgulho de receber em casa.

Enfim, os verdadeiros Eskineiros.

E eles estão todos no Kaindo no H. 95% dos Eskineiros que eu tanto amo, estão reunidos no meu antigo bloco Kaindo no H. Não seria justo eu ficar distante desses caras quando eles sempre cuidaram pra não ficarem distantes de mim. Não posso deixar esses amigos na mão. Porque eles nunca me deixaram. Nunca.

O mundo gira, manolos. Os anos passam. E coincidentemente, é justamente a minha fidelidade aos amigos, o mesmo motivo que me fez migrar do Kaindo pro Canibal no passado, agora no presente me faz voltar ao meu primeiro lar. E hoje, é com o coração partido que eu anuncio que deixo o meu amado Canibal.

Eu sei que eu vou chorar. Já estou chorando, pra falar a verdade. Mas vou feliz. O Kaindo no H não é um estranho pra mim. É minha antiga casa. Minha antiga cama. E hoje meus grandes companheiros moram lá, e com certeza vão me acolher da melhor forma possível.

Ao Canibally, resta meu muito obrigado. Vocês não fazem idéia de como eu sou grato por ter passado todos esses carnavais com vocês... Vou lembrar de cada presepada, vou lembrar de cada batucada de caneca na gaiola do caminhão e com certeza sempre que eu soprar aquele maldito apito, eu vou lembrar de vocês. Podem me esperar, que eu vou aparecer pra azilar cada um de vocês... Canibal que eu aprendi a amar. E, de certa forma, Canibal sempre serei, vista a camisa ou não. Essas coisas não se vão da gente assim...

Quanto ao Kaindo no H, não consigo nem expressar o orgulho que sinto em voltar. Acredito que essa seja a hora certa, o melhor momento possível pra mim. Não foi a tentação que me convenceu. Foi a nossa fidelidade, nosso companheirismo, nossa amizade.

Me sinto feliz, honrado, e acredito que com esse time, o Carnavally 2011 ou será perfeito... Ou será o nosso fim. Porque sinto cheiro de Wrestlemania das Dorgas no ar (E sim, só os eskineiros entenderam de cara essa piada. Viu só porque tenho motivos de sobra pra juntar-me a eles?)

Se um dia eu tivesse de realizar tamanha mudança, não poderia ser por causa de outro elenco que não fosse esse. Vocês são foda. E eu não conseguiria mais ficar longe desse grupo. Se ficasse, sejamos francos... não seria eu.

Pois como diria Clarisse Lispector:

“Mude. Seja criativo. Experimente coisas novas. Troque novamente. Mude, de novo. Experimente outra vez. Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas piores do que as já conhecidas, mas não é isso que importa. O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia. Só o que está morto não muda! A salvação é pelo risco. Sem a qual a vida não faz sentido.”

Eu não me vejo como um azarão num pau-de-arara, arriscando uma viagem no escuro. Não... Eu sei que nesse bloco, sou apenas um irmão que volta pra casa. E nessa casa, eu sei que todos vamos nos sentir como sempre nos sentimos todo fim de semana. 

Numa grande Kasa da Eskina.

É com enorme prazer que anuncio:



Manolos e Manolas. Saiam de Baixo. Porque Kakito agora está Kaindo...


Kaindo no H.


Bjs EuQueriaGritarParaACidadeInteiraOuvir...