Ao Carlos...


Alguns meses atrás eu conversava com Rayanna sobre como as coisas mudam. Como o tempo faz com que as coisas simplesmente se transformem tão depressa que quando a gente menos espera, nos pegamos sentados, olhando pro nada e morrendo de saudades de um tempo que já passou.


O interessante nessa conversa, é que a gente não se referia à infância, às quadrilhas da escola ou o tempo em que a cerveja era barata. Não. Por incrível que pareça, eu e Rayanna estávamos nos referindo ao ano de 2009. Mais precisamente entre outubro de 2009 à fevereiro de 2010. Naquela época eu, ela, O Carlos, Biankinha, Paloma, Milena, Irinéia e agregados formávamos um grupo incrivelmente apegado. Absolutamente inseparável.

Nessa época, O Carlos (não, eu nunca o chamei de "Carlinhos da Favorita" ou "Carlinhos do Mal"... Eu chamava de O Carlos. Eu ainda chamo de "O Carlos". Com esse "O" na frente. É assim que o nome dele consta no meu celular. E nas fotos do Orkut. E não me pergunte porque. Simplesmente chamávamos assim e pronto) que namorava Rayanna, passou a frequentar a Eskina. E eu passei a conhecer melhor esse manolo.




Durante esses vários meses, essa turma permaneceu grudada. Era absurdo como a gente não se separava. Todo santo dia arrumávamos um programa. Toda santa farra a gente tava no meio. Lanchávamos juntos, jantávamos juntos, farrávamos juntos. E nessas experiências de amizade eu conheci um Carlos diferente do que falavam.

O Carlos era extremamente prestativo. Extremamente pra frente. Era irritante como com ele não tinha tempo ruim. Não tinha preguiça de fazer um favor, não tinha pena de emprestar ou até dar o que tinha, não tinha nada que o desanimasse.
O carlos não tinha ressaca. Meu Deus, o cara era de aço! A gente chegava em casa as 6 da manhã, e às 9 meu celular já tocava. Era O Carlos, novo em folha, acordando um por um da turma. O Carlos era louco. Avacalhado, acanalhado, engraçado. E era bom estar com ele.


Numa das bebedeiras aqui em casa, eu conhecí O Carlos escritor. É, O Carlos gostava de escrever, assim como eu. Ele me mostrou alguns de seus textos e eu lamento demais tê-los perdidos numa formatação. 

Eu conhecí O Carlos romântico. Um homem com coração, que amava e não tinha vergonha de dizer isso. Tanto que protagonizou um belíssimo momento que emocionou a gente durante o nosso Natal sem Sede, cuja data coincidiu com seu aniversário. Não preciso entrar em detalhes. Quem estava lá, lembra bem o que aconteceu depois que cantamos parabéns pra ele...




E uma noite que eu jamais vou esquecer? Dia 23 de dezembro de 2009. Estávamos  jantando juntos, eu, O Carlos, Rayanna e Biakinha quando resolvemos que iríamos tirar Paloma de casa, que estava triste, passando por um momento ruim. Ah, vamos lá animar ela, dar uma força, levar ela pra beber... 

O problema é que assim que chegamos lá na casa de Paloma, o céu desabou. Uma chuva gigantesca, uma tempestade que veio do nada. E quando a gente pensava que nosso plano tinha ido por água abaixo, O Carlos simplesmente tira a camisa e sai correndo pra tomar banho de chuva.

5 minutos depois, estávamos todos na rua, encharcados, passeando de moto pela cidade, buzinando pro nada, aproveitando a chuva com uma incrível sensação de liberdade. Não havia uma viva alma nas ruas, só a gente. A cidade naquele momento, era só nossa. E tomamos banho na bica do Francisca Mendes. E tomamos cerveja, na chuva, no frio, ao som da bicicletinha... A chuva passou e a gente continuou por lá. E Paloma sorria. E percebemos que O Carlos salvou a noite com sua idéia tonta de sair correndo na chuva.

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Aí o tempo passou. Do nada, passou. E sem nem nos dar a chance de nos defender, tudo mudou. Alguns laços se desataram, outros foram morar fora... E de repente o grupo já não era mais o mesmo. Ainda continuamos amigos da mesma forma, mas as coisas mudam. O Carlos já não namorava mais Rayanna e acabou, compreensívelmente, se afastando um pouco da Eskina. 



É assim que são as coisas. É assim que é a vida. Amigos vem e vão, como aquela chuva na véspera do natal. Mas as lembranças, a intensidade e a essência ficam. Com certeza ficam.Porque independente de tudo, eu nunca encontrei O Carlos na rua pra ser cumprimentado com um aperto de mão. Sempre recebi um abraço. Um abraço carinhoso, acompanhado de um "como você tá, meu filho?", no qual a gente sente que alí existe saudade. Existe sinceridade. Existe carinho de verdade. E uma promessa de um novo encontro. Ele sempre prometia que voltaria à Eskina.






A ultima vez que falei com O Carlos, foi bem típico do que sempre acontecia quando se tem O Carlos no meio. Eu estava dormindo, agonizando de ressaca depois de uma sexta-feira "daquelas" quando O Carlos invade meu quarto com uma filmadora. Filmando minha pessoa em trajes menores, ele falava com aquela "suavidade" na voz (nem gostava de falar alto) e mandava eu arrumar a mala porque ele ia me levar pra um Show de José Augusto sabe Deus onde. Dizia que eu tinha prometido. Meu Deus... Eu, bebaço, devia ter mesmo prometido na noite anterior. Eu devia saber que ele ia cobrar. Bom... Eu não lembro bem qual foi minha resposta diante daquela cobrança, mas sei que envolvia um sorriso, um insulto meio homofóbico e um dedo do meio estirado pra câmera. 


Depois, enfiei minha cabeça debaixo dos lençóis e tudo que eu me lembro é de ouvir ele na sala, dizendo a Maria que eu era um furão, que tinha prometido ir pra José Augustocom ele e desistí. Ouvi ele e Zé Wellington rindo lá fora. Ouvi o portão batendo...


E foi a última vez que eu ví O Carlos.





Não lembro de ter encontrado ele outra vez, não pra conversar. Não lembro se o ví no carnaval, já que minhas lembranças carnavalescas não passam de uma mistura confusa de momentos e borrões amargos de cerveja.


Ontem, por volta das 8 da noite, eu conversei novamente com rayanna sobre isso. Sobre ele. E mais uma vez a gente falou no quanto gostaria de voltar naquele tempo, onde haviam tantas complicações, mas era tudo tão gostose de viver... E eu não dormi mais pelo resto da noite. Rayanna também não. E quando eu observava, angustiado, o sol brilhar por entre a frecha de uma telha quebrada do meu quarto, recebo uma mensagem de Rayanna, onde ela não precisou de muito pra me fazer entender a dor que sentia:


"Morreu, kakim..."


E aí o que já era silêncio em mim, se calou ainda mais. E tudo que eu posso dizer hoje, é que eu sinto muito. 


Sinto muito a todos que sofreram junto com ele esses últimos dias. Sinto muito a todos que nesse momento choram a perda de um amigo. 


Mas eu não. Eu, honrando a teimosia de todo ariano, simplesmente me recuso a aceitar que O Carlos se foi. Não, não foi. Eu prefiro acreditar que ele ainda anda por aí, farrando e invadindo quartos de pobres ressacados com uma filmadora. Eu prefiro considerar que a partir de agora essa ausência é só o doido do Carlos que nunca mais apareceu. Deve tá aprontando por aí...


E vou continuar alimentando essa lembrança. Porque a morte pode nos tirar tudo, menos as lembranças, os momentos bons e as marcas positivas que quem parte nos deixa. Vou continuar esperando notícias do Carlos. E quem sabe assim, se eu acreditar com todo meu coração, eu possa encontrar ele qualquer dia desses comendo fritas com Brahma Fresh na IceBerg... Num banho de chuva improvisado nas vésperas do natal... Ou num show de José Augusto por esse mundo afora... Eu devo essa a ele.


Mas acima de tudo, eu ainda espero acordar num sábado de manhã com meu celular vibrando. E vai ter uma mensagem recebida. E eu vou rir, muito, quando eu ler aquela boa e velha sacada:


"A Galinha Já Chocou os Ovos. Repito: A Galinha Já Chocou os Ovos."


Leva contigo nessa frase, meu amigo, o resumo de tudo que foi nossa amizade. Toda a nossa história. Toda nossa cumplicidade. E toda a saudade daquele tempo. Aquele tempo que na verdade foi um dia desses... Aquele tempo tão bom que, infelizmente, não viveremos jamais...


Adeus, Mestre Carlos...

Comentários

  1. eu lembro desse dia, e ele era exatamente assim, como vc falou :)
    eu não consigo imaginar ele doente, ou mal de alguma forma, eu só lembro dele alegre, tudo tava bom, em tudo dava um jeito, era sempre assim..
    a última vez que falei com Carlinhos ele tava dizendo que vinha me visitar aqui Campina =/ e eu sabia que ele vinha, ele nunca deixava de cumprir uma promessa :D
    e eu não fiquei devendo promessa nenhuma a ele, ele me levou num show de José Augusto \o/
    tempos que não voltam mais :/
    saudades Carlinho.

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  2. cara... lembro exatamente cada dia nosso... o quanto eramos felizes... tô com um aperto no peito tão grande... acho que a ficha ainda não caiu =/ as coisas mudaram muito, mas eu ainda continuo amando cada um de vocês do mesmo jeito, ou entao mais ainda...
    as saudades serão eternas...
    momentos que não esquecerei jamais =/

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  3. Belissimas Palavras =/
    saudades eternas Carlinhos!

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  4. 7 anos de história...
    Carlinhos tem um espaço do tamanho de bem grande no meu coração, que ninguém ocupou, nem vai conseguir ocupar.
    Éramos uma mistura de amor/ódio, complemento/perigo, êxtase/desgaste, e só a gente entende... e só a gente sabe como valeu a pena.
    ... né, "My dear"?

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. muito bacana os laços de irmandade tido nessa passagem!

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  7. não tenho palavras, simplismente não tenho...pra dizer o que eu tou sentindo.
    faço minhas as suas palavras "me recuso a acreditar que o Carlos se foi"!
    ...saudade

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  8. É tão estranho
    Os bons morrem jovens
    Assim parece ser
    Quando me lembro de você
    Que acabou indo embora
    Cedo demais

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  9. não tenho palavras, simplismente não tenho...pra dizer o que eu tou sentindo.
    faço minhas as suas palavras "me recuso a acreditar que o Carlos se foi"!
    ...saudade ²

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  10. ta sendo tudo meio confuso ainda! e faço de suas palavras kakito, as minhas! prefiro pensar q ele ta aprontando mtas por ai, com akele sorriso maroto dele! mas peçamos a Deus força e conforto!
    beijos

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  11. era exatamente esse o carlinhos que todos nós conheciamos, o carlinhos sem tempo ruim, sem mizeria, sem ressaca... a cada esquina, bar pizzaria, club de festa, cidade, sinuca é uma lembrança que vivi com carlinhos, essa é uma verdade que vai demorar pra aceitarmos, um dia, se Deus quizer, quero encontrar com ele onde for e por dizer como ele foie especial na minha vida e como ele faz falta.

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  12. É tão dificil quando um amigo tão proximo se vai. Não tive coragem de ir ver seu corpo , pois o que eu quero ter na memoria é a imagem de suas brincadeiras, de seu sorriso sincero de sua amizade fiel.

    Só eu sei o que Carlinhos representava pra mim, muito mais que um grande amigo um irmão que me ajudou a ver a vida da melhor forma possivel, sempre vendo o copo meio cheio pois era assim a filosofia de vida de Carlinhos e é assim que vou viver a minha.

    Saudades grande Carlos!

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