O Gorro de Papau Noéi...



Todo ano é a mesma coisa. Vai terminando outubro, chegando novembro e tudo pra mim já tem cara de Natal. Qualquer lâmpada acesa pra mim é um pisca, qualquer música tem arranjo de harpa e até o cheiro de chuva pra mim é "cheiro de Natal".

Mas sempre, todo ano, uma coisinha, um momento, um acontecimento diferente me faz perceber que o Natal realmente chegou em mim.

Esse ano, eu jurava que isso não aconteceria. Na verdade, lembro de dizer aos meus amigos que morria de medo da chegada da época de natal esse ano, pois eu tinha quase certeza de que não sentiria aquela paz e aquela alegria que sempre sinto todo fim de ano... Mas meus amigos sempre disseram: "Relaxe... Você vai ver como jajá você vai tá azilando a gente falando em Natal..."

Hoje resolvi montar a árvore, afinal de contas, é dia de ação de graças. Passei a tarde inteira montando nosso pinheiro e lá pras 4 horas mainha me chamou pra comprar mais uns piscas pra enfeitar o exterior da casa, como já é tradição. Até aí eu tava empolgado, sentia que o natal renascia em mim. Mas foi o que aconteceu na rua que ficará pra sempre em minha mente como "dia em que o Natal voltou pra mim".

Eu tava com mainha no Torra-torra, comprando umas toneladas de pisca e de enfeites e extensões e talz... Tinha mais um monte de gente lá fazendo compras pro natal. Festões, bolinhas, Papais Noel de brinquedo, guirlandas e tudo aquilo que brilha em nossas casas em dezembro.

E no meio de todo esse pessoal, eu vi uma menina. Uma galeguinha pequenina, que não devia ter mais que seus 4 ou 5 anos. Não dá pra descrevê-la. Era pequenina, cabelinhos loiros e lisos, o corpinho pequeno e fininho, com um short jeans lá na barriga. Enfim, uma criaturinha que exalava tanta inocência e pureza, que você não consegue dizer que não é linda. Olhava os enfeites que estavam a venda com aquela admiração que só as crianças têm. Colocava o dedinho nas bolinhas coloridas, sorria com os piscas... Mantinha-se sempre perto de sua mãe, que fazia as compras despreocupada por ali. Até que a pirralhinha encontrou um gorro de Natal. Tomou em suas mãos e disse empolgada:

"Olhe, mamãe, um chapéu de "Papau Noéi"!"

Dito isso, colocou o gorro na cabeça e olhou pra mãe sorridente. O gorro atolou-se na cabeça dela, quase lhe cobrindo os olhos. A mãe, ocupada com as compras, nem deu muita atenção. Já eu, me derreti diante daquilo. Talvez a coisa mais linda que eu já vi, não sei porquê. Aí ela olhou em volta, buscando um olhar que admirasse seu chapéu de "Papau Noéi" e encontrou meus olhos nos dela. Sorriu desconfiada, eu sorri também, e ela pôs o gorro de volta no lugar que encontrara.

Na mesma hora eu quis dar aquele gorro à menina. Meti as mãos no bolso, mas não tinha levado a carteira. Corri até o carro, mexi no porta moedas e só achei 30 centavos. Não tive coragem de pedir a mainha, ela ia dizer que eu tava doido, com certeza. Voltei pra loja, onde mainha pagava a conta já e peguei as sacolas. Mas antes de sair, virei pra loja e olhei a pequenina por mais uns segundos. Ela nem deu conta de que estava sendo observada e continuava colocando o dedinho nos enfeites de Natal.

Já no carro, mainha perguntou:

"Quem era aquela menininha?"

Eu disse:

"Num sei. Mas ela colocou um gorro de natal e foi a coisa mais linda que eu já vi. Queria ter dado um a ela."

Pra minha surpresa, mainha disse:

"Oxe, vamo dar!"

Abriu a bolsa e saiu procurando o dinheiro. Nessa mesma hora eu olhei pra loja e vi a pequenina saindo de mãos dadas com a mãe,  rua afora, indo embora.
 
"Dextá, mainha" eu disse. "Elas já tão indo embora..."

Mas mainha nem me deixou desanimar:

"Corra, vá comprar, que eu fico olhando pra onde elas vão!"

E aê não deu outra. Prometendo a mainha que assim que chegasse em casa a pagaria, corri pra loja, pedi licença a uma moça que passava o cartão pra pagar suas compras e pedi que o caixa tirasse bem rapidinho aquele gorro vermelho do mostruário.

"O mais caro!" Pedi, quis nem saber. O cara me entregou o gorro e eu saí em disparada pela rua, o povo tudo olhando.

Entrei no carro e mainha super-ninja já gritando "Elas entraram ali, naquele beco!!". Confesso que foi engraçado ver a empolgação dela em fazer aquela boa-ação. Ela tava realmente a fim de me ajudar a presentar aquela pirralhinha que colocava os dedinhos nos enfeites.

Sai em disparada no carro, ziguezageando na rua, buzinando pro povo sair do meio, mainha gritando do lado, apontando pras ruas que a gente podia tomar. Parecia mesmo um filme policial. Até que a gente entrou numa rua e lá estavam elas. A mãe e a pequenina.

Parei o carro ao lado delas, a mãe olhoando com uma cara meio que sem entender o que estava acontecendo e a pequenina me olhando com um reconhecimento de quem diz "Ué, é aquele menino que riu pra mim na loja".

Puxei o freio de mão, o carro ligado, e desci, alí mesmo no meio da rua. Mostrei o gorro para a mãe e disse baixinho: "Posso dar um presente a ela?". A mãe sorriu compreendendo o que eu queria fazer e fez que sim com a cabeça.

Eu me ajoelhei, e ofereci o gorro a ela.

"Tó. Um gorro de 'Papau Noéi" pra você".

Ela primeiro olhou o gorro. Depois olhou pra mim. Então, desconfiadamente sorriu. Com as duas mãozinhas, apanhou o gorro e ficou olhando pra ele, com um brilho no olhar, aquele brilho absurdamente lindo que só uma criança pode exibir.

"Como é que se diz?" Ouvi sua mãe dizer.

Ela olhou pra mim e disse num voz fina, recitada, voz pura de criança: "Obrigada."

Um simples "obrigada". Com um acento enorme no Ó. Um tom agudíssimo na voz infantil. Nenhuma pontinha de timidez agora em sua voz. Só pureza e talvez, quem sabe, uma gotinha de gratidão pelo presente. Olhei para a mãe dela. Ela sorria e balançava a cabeça pra mim, num claro gesto de "obrigada também".

Dei um beijo na cabeça da pequenina e o cheirinho de Johnson & Johnson nos cabelinhos lisos amarelos me fez voltar a minha própria infância. Infância cujo Natal significava toda a felicidade do mundo, e que até o ano passado funcionava da mesma forma. E de repente eu percebi que naquele momento, o espírito do Natal finalmente havia renascido em mim.
"Feliz Natal, pequenininha", eu disse, quase que sem conseguir falar, a voz embargada, desafinada, trêmula.

"Feliz Natal", foi a resposta dela, acompanhada de um sorriso enorme, puro como água. E foi tudo que eu precisava ouvir dela.

Entrei no carro, meio que tentando esconder as lágrimas que queriam sair dos meus olhos, e percebi que mainha, toscamente, tentava fazer o mesmo. Então rimos. Que loucura aquilo tudo! Todo esse alarido pra dar um gorro a uma criança que a gente nem ao menos conhecia. Olhamos a pequenina virar a esquina, sumir de nossas vistas e então seguimos nossa viagem de compras.

Pena a emoção do momento ter nos pego com tamanha surpresa, que nem o nome da pequenina eu lembrei de perguntar. Estava com meu celular no bolso, e nem mesmo uma foto sequer da minha amiguinha e seu gorro de "Papau Noéi" eu lembrei de tirar. 

Lamento um pouco por isso, porque provavelmente eu nunca mais a encontre novamente. Provavelmente essa tenha sido a primeira e única vez que eu ví aquele pequeno anjo de natal, que provavelmente foi enviado por Deus pra reascender aquele velho espírito natalino em mim. 

Mas isso não tem importância. Porque eu sei que eu não preciso de nomes nem de fotografias. Pois nada, nada nessa vida poderá me fazer esquecer aquele sorriso cheio de dentinhos pequenos, aquele brilho ímpar no olhar, aqueles dedinhos buliçosos apertando o gorrinho e aquele "Feliz Natal" que ela desejou pra mim.

E eu sei que aquela pequenina vai lembrar durante muitos anos, daquele maluco com uma cruz no braço, que parou o carro no meio da rua pra lhe entregar um gorrinho de "Papau Noéi"...

Um gesto simples pra alguns. Toda a diferença para outros.

O Natal chegou, Eskineiros. Finalmente chegou. Pra mim. Pra vocês. Pra todos.

Meu primeiro Feliz Natal foi para aquela pequenina. E que ele se estenda para todos vocês...


FELIZ NATAL.

De todo o meu coração. :)

Bjs HoHoHo

Comentários

  1. Por que eu sempre choro???

    FELIZ NATAL ESKINEIROS !!! *

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  2. êêêw, que lindooo!! Vivaaa o Natall!!;)
    ah, e claro.. sua noite de Natal vai ser bela msm, ao meu lado n tinha como não ser. hehe

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  3. Ok, Tota... Todo mundo entendeu que você quis dizer que a SUA noite de Natal vai ser bela pq terá eu. Mas tudo bem. Sua companhia AS VEZES me agrada um pouco... kkkkkkkkk ;)

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