O Som da Minha Infância...

Certa vez aqui na Eskina, numa dessas nossas cervejadas tradicionais, uma das convidadas resolveu me analisar. Sim, ela era psicóloga, e era convidada de um amigo meu. No meio da brincadeira, ao me ver bebendo empolgadíssimo ao som de "Se Enamora" do Balão Mágico e depois de uma Polka do Pica-Pau, ela pediu que eu desse um pause no som para que ela pudesse traçar ali mesmo o meu perfil.


Disse então que eu tinha tido uma infãncia triste e traumática. Disse que eu não tive a oportunidade de ser feliz quando criança e só agora eu estaria tentando recuperar esse tempo perdido, resgatando as músicas da minha infância para compensar no presente, a felicidade que eu não tive no passado.


O silêncio que se seguiu logo após essa "análise" foi intenso. Todos os demais presentes à mesa me conheciam desde pirralho, e ansiavam por minha resposta.


Eu apenas sorrí. E disse, com toda educação que me cabia no momento, que ela era a profissional mais incompetente que eu havia conhecido em toda a minha vida.



Como assim "minha infância foi triste"? Que tipo de pessoa vê alguém sorrindo ao olhar uma fotografia e conclui que aquela fotografia traz más recordações? que tipo de pessoa vê outra curtindo pra caralho uma música e conclui que aquela música remete a uma infância infeliz?





Caramba, minha infância foi perfeita! Tão perfeita que eu daria um braço e uma perna pra voltar pra lá. Tão perfeita que até hoje eu faço questão de não deixá-la mofar numa gaveta qualquer da minha lembrança. Tão perfeita que eu a mantenho viva por meio das minhas ações, das minhas brincadeiras e acima de tudo, por meio da música.




É, eu ainda escuto até hoje meu disco da Família Dinossauro, e daí? Eu ainda canto o tema da TV Colosso como se fosse um clássico de Mozart. Eu ainda me deito e fico quietinho prestando atenção pela enésima vez às historinhas do Patinho Feio, da Chapeuzinho Vermelho, do Macaco e a Velha, da Festa no Céu e da Dona Baratinha, tão genialmente rimadas nas linhas da coleção Disquinho.




Eu ainda curto Balão Mágico, A Arca de Noé, Trem da Alegria e a boa e velha Xuxa dos anos 80 e 90, quando ela e seus produtores ainda se preocupava em fazer música de qualidade.




Eu sei, esse é o mesmo papo de todo mundo que tá ficando velho... "No meu tempo era que as coisas eram boas, não essas porcarias de hoje"... Eu até tendo evitar dizer isso, pra não me sentir velho como meu avô. Mas vamos ser sinceros... Eu estaria mentindo se dissesse que no meu tempo é que as coisas eram legais de verdade?




Ou alguém aqui acredita que daqui a 10 anos, as crianças de hoje, já adultas, vão dirigir até o trabalho escutando "Mexe as cadeiras com o Txu Txu Cão"? Ou você acha que seu sobrinho de 8 anos, quando tiver seus 18 vai tomar uma cerveja gelada ao som de "Se você quer sorrir e Cantar, Patatí Patatá"?





Pois é. Pois eu o faço com a trilha da minha infância. Eu dirijo ao som de Toquinho, ao som do Trem da Alegria, ao som de Sérgio Mallandro, de Xuxa, de Balão Mágico, e, sério, eu curto pra caralho! E canto alto dentro do carro, e danço sentado no banco do motorista, e as pessoas me olham na rua e pensam que eu sou louco. Foda-se. Eu sou é feliz. Lidem com isso.



 Vou continuar curtindo minhas músicas que marcaram minha infância, e vou continuar achando que elas são as mais belas composições do mundo, porque acreditem, elas são! Foram feitas numa época em que os adultos realmente se importavam em fazer algo bom para as crianças. E é por isso que eu morrerei de velho, sem deixar minha infância morrer.


 Brindarei mil vezes ao som de Chaves e Chapolim. Guiarei milhas e milhas cantando Trem da Alegria a plenos pulmões, estranhe quem estranhar.


 
E continuarei mantendo acesa a chama dos meus melhores dias. Enquanto eu puder manter viva a criança no coração, eu serei capaz de manter viva a felicidade em mim. E enquanto eu puder cantar as milhares de canções, de cujas composições jamais esqueci uma vírgula, continuarei frustrando, com orgulho, psicólogos suicídas que acham que eu não tive uma infância feliz...


Bjs UniDuniDuniTê...

Comentários

  1. Ai q burinha, ai q bura...

    Depois ngm sabe de onde vêm as mungangas iguais né?
    Sou muito feliz por ter conhecido esse som na minha infância tb.

    E de quebra ainda me apresentaram umas músicas de gente grande, dos anos 50, q não tem como esquecer... Ow.

    :***********

    ResponderExcluir
  2. Valeu Kakito, agora tu falou umas verdades.
    Sempre é bom lembrar do que foi bom.
    E esta psicóloga, acho sim que
    foi ela que teve uma infância ruim

    ResponderExcluir

Postar um comentário